A rivalidade futebolística atrapalhou o meu processo de admiração pelas coisas boas dos hermanos argentinos. Não foi esse o motivo principal, lógico, e sim o traço de personalidade combativa, persistente, de veneração pelo que é seu, o que por muitas vezes soa como arrogância, petulância... Em 2010 resolvi fugir do Carnaval e “esticar” até Buenos Aires. Câmbio favorável e distante pouco mais de uma hora e meia de Porto Alegre, além de boas referências colhidas de amigos despertaram meu interesse. Talvez como uma paixão fulminante daquelas de tirar o fôlego fez com que me rendesse aos encantos da capital argentina. No mesmo ano voltei em um feriado de novembro e em um momento histórico. Falecia havia uma semana Nestor Kirchner, ex-presidente e esposo da atual mandatária, Cristina.
Como jornalista busquei entender um pouco dessa relação conturbada entre eleitores, admiradores e descontentes com os rumos do país nos últimos anos. Foi aí que passei a admirar cada vez mais o espírito nacionalista, de nível cultural elevado se comparado com o nosso, que brigam por melhorias e buscam incessantemente os jornais e revistas para devorar as editorias de economia e política. Obtive registros interessantes de tristeza, como é o sentimento de parte considerável da população e outros de pouca lamentação. Ao questionar um taxista a resposta seca e áspera - Como está a Argentina após o falecimento de Nestor? - questionei. "Mejor", sentenciou sem titubear.
Costumo endossar as palavras do Carlito quando afirma que a melhor maneira de conhecer uma cidade é sentir seus cheiros. Lógico que usa de uma metáfora para subentender que para se conhecer a fundo uma cidade, um estado ou país, são necessárias três coisas: andar, andar e andar. Minha paixão pela capital hermana vai muito além das rivalidades clubísticas de Boca e River, o colorido do Caminito, a imponência do Obelisco ou o charme dos passos de tango ao som de Gardel. Passa pelo sentimento de veneração pelo “seu”, inquietação pelo “nosso” e o nível cultural e patriótico exacerbado. Um país, precisa antes da educação, amar-se aos seus. E isso na Argentina, hoje de Cristina, é o que não falta.
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Solidariedade a Cristina |